Trabalho_Dignidade_Crs - Pausas e vírgulas
Pausas e vírgulas
Parou?...Parou por quê?
Quem, eu..? Imagina...
Vírgula !
Pausas e vírgulas
LITERATURA > 6_Crônicas_Crs > 1_Miguel_Pereyra_Crs > 2022_Crs
LITERATURA > Crônicas
25/10/2022
Diferente às vezes anteriores o seguinte texto é mistura de mitologia, humor e final igual ao anterior.
Digamos que é um conto com final para meditarmos.
m
Trabalho e Dignidade
m
* * * * * *
Conta a mitologia grega que
Zeus
enviou Hermes,
mensageiro dos deuses, para transmitir um desígnio cujo destinatário era a Terra.
O plano divino era povoá-la com a espécie humana, sendo a Terra a encarregada da sua manutenção,
provendo-lhe todo aquilo que precisasse para sua permanência temporal e desenvolvimento material.
Parece que a Terra botou o grito no céu - literalmente - e num princípio reclamou insinuando uma negativa,
m
m
que mais que uma imposição era um rogo.
Hermes, imutável, lhe disse que convinha-lhe obedecer e cumprir com a ordem divina.
m
A Terra, que sabia da batalha perdida desde o início, lhe respondeu:
- Bem, eu providenciarei seu sustento. Mas como bom mensageiro que tu és, podes transmitir que isso lhes custará muito caro!!!
m
* * * * * *
m
A continuação relato um conto - ou anedota - que se bem não tem nada de mitológico, se ajusta perfeitamente à resposta da Terra.
Um engenheiro agrônomo, recém formado, foi contratado por uma cooperativa do interior gaúcho.
Sua chegada à localidade foi uma festa para a comunidade.
O receberam todos, desde o Prefeito até o mais humilde colono.
m
Ávidos de boas notícias foram logo a inspecionar as terras que seriam beneficiadas pelo seus conhecimentos.
* * * * * *
Desde o alto da sua sabedoria, o engenheiro analisou entre seus dedos um pouco da terra que estavam pisando e afirmou:
m
- Boa terra!!! Aqui deve dar um bom feijão.
m
- Da, não!!! -
m
m
respondeu-lhe um caboclo, com um chapéu de palha puído.
Silêncio total.
m
m
E assim continua por diversas vezes,
sendo que o murmúrio dos presentes aumentava
na mesma proporção que a irritação do engenheiro.
m
m
Mais uma vez ele insiste.
-Boa terra. Aqui deve dar um bom milho.
m
-Da não!!! responde o caboclo.
m-Mas escuta aqui!!!
m
m
Se você planta deve colher um bom milho.
m
O caboclo:
m
m
- A bom!!! Se alguém planta é outra coisa.
* * * * * *
Na simplicidade da resposta está sua genialidade.
Na cosmologia desse caboclo estava absolutamente claro que sem trabalho nada é possível,
e se bem a sabedoria além do humano estabeleceu o suor da frente para ganhar o pão,
ao mesmo tempo igualou dignidade com trabalho.
Homem ou mulher sem trabalho é uma forma de anular talentos e dons preciosos,
o que significa um grande desperdício,
pois se pelo contrário inseridos estivessem na corrente de solidariedade que significa o trabalho humano,
estaríamos numa sociedade bem mais alegre e muito menos violenta.
m
Sim, porque cada produto ou serviço que sai de mãos humanas é,
fundamentalmente, um gesto de amor aos outros que o precisam.
m
Estamos para servir
* * * * * *
O autor da presente crônica escrevia no jormal "Folha de Canela".
O tema aqui desenvolvido foi publicado no mês de novembro de 2013.
* * * * * *