Miguel_Otimismo_C - Pausas e vírgulas

Pausas e vírgulas
Parou?...Parou por quê?
Quem, eu..? Imagina...
Vírgula !
Pausas e vírgulas
Ir para o conteúdo
LITERATURA > 1_Contos_C > 3_Miguel_Pereyra_C > Miguel_Publicações > 1_Miguel_C > Miguel_2021_C
LITERATURA > Contos
18/10/2021
Miguel Angel Pereyra
Um portoalegrense argentino fazendo contos

* * * * * *
OTIMISMO
Um conto que não é tal e que
inicia com este vídeo com a melodia
"Velho, meu Querido Velho
Era uma vez…
Muito tempo atrás ... muito tempo atrás.
O que é muito porque eu medi no tempo dos homens.
Ruas de uma época em que o pavimento era um luxo, não tão necessário como hoje.
Cavalos, carros, bicicletas ...
e a pé, e ali a lama era superada, "a pé"
ou com botas ...
na Argentina eram as chamadas "Pampero".
Como o vento, aqui o Pampeiro.


Vocês as conheceram?
Naquele dia, há muito tempo, fomos eu e meu pai ver um curandeiro.
A ciência médica havia acabado com as possibilidades de curá-lo.
E nele, o que acabou foi sua confiança na medicina tradicional.

O esclarecimento que se segue é válido, eu acho.
Apelar para o curandeiro nem sempre era um sinal de fé nele e de sua eficiência.
Foi sim, sempre, um sinal de esperança ... digamos que o consultou "por se..."

E esse "por se ..." acalmava a angústia nesses momentos presente.
A de amanhã, bem, a gente dela cuidaria se ainda estivesse presente, amanhã.
Chegamos, o curandeiro nos recebeu e convidou a entrar.

Meu pai entrou e me pediu para que eu o esperasse do lado de fora.

Sentado sozinho no carro, fiquei todo aquele tempo contemplando o rio Paraná.m


Em silêncio, sem interrupções no diálogo comigo mesmo, o celular,
que hoje raramente o permite, não existia nem em fantasia.
Isto não pode nem deve ser considerado uma crítica.
É só uma constatação.

Os tempos apresentam mudanças, e sinto que é sinal de maturidade não resistir a eles.
Porque, em última análise, nossa marca está nessa mudança.

Agora, sentir saudade é outra questão.
Tenho saudades daqueles tempos, sim. Mas, para mim, sua semântica é de saudade sem tristeza,
pois guardo dentro de mim as alegrias que vivi.
Em outras palavras, não as perdi.

Papai reapareceu, subimos no carro, e o diálogo foi o seguinte:
- E pai, o que aconteceu? Ele pode te curar?

- Olha, eu acho que não. Já que ele disse que o que eu tenho era muito complicado.
- Que é o que tens?
- Já não lembro o nome, usou uma “língua” de bruxo,
com muitas consoantes e poucas vogais.

- E agora, pai?

Ele ficou em silêncio, com a cabeça baixa um tempo, para mim longo...e me respondeu


- Olha, os moléstias que eu tenho já são quase um hábito.
E nós, como somos "animais de hábitos" já estou adaptado.
Nada vai mudar se eu continuar assim.
Mas, há uma frase que ele disse, que é a que levo comigo.

- Que frase?
- Que ainda viverei vários anos.
- Quantos?

- Olha, vários é mais do que um. Portanto, este ano, ainda vou viver.


Então vou cuidar dele.

Seguiu-se um silêncio meditativo, o carro indo lentamente na estrada de terra.
O rio Paraná nas costas.

E na frente o ano que íamos compartilhar,


e que por sorte foram muitos mais...

Tema Musical
Música: Piero
En el Piano:  Miguel Angel Pereyra

* * * * * *
Pausas e vírgulas

Contato
pausasevirgulas@gmail.com
Voltar para o conteúdo