Rapadura_Maldita_ - Pausas e vírgulas

Pausas e vírgulas
Parou?...Parou por quê?
Quem, eu..? Imagina...
Vírgula !
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12/11/2021
Tatiane Sancho
Meus Contos Contados

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A Rapadura Maldita
Era final dos anos noventa, minha família tinha sido convidada para um casamento de uma vizinha. Naquele dia, saímos todos, pai, mãe, minha irmã e eu para comprarmos um presente aos noivos. Havia uma lista de presentes numa loja, que ficava numa das ruas mais famosas e conhecidas da cidade onde moramos,
Porto Alegre.
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           Ao chegarmos na loja, fomos bem recepcionados por uma vendedora simpática,
na casa dos seus quarenta anos, que nos orientou sobre a lista de presentes.
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Ficamos um tempo olhando toda a loja, tentando escolher entre tantos, apenas um presente, o que dava para pagar na época, claro. Enquanto isso, meu pai, que não tem muita paciência para esse tipo de aventura, ficou perambulando pela loja. Em dado momento, parei para olhar e não o encontrei mais. Fui atrás dele e eis que o encontro perto do caixa, num balcão, encostado ali, comendo algo. Ao perguntar a ele o que estava comendo, me mostrou rapaduras, pequenas e muitas delas, que estavam soltas e à vontade para os clientes, dentro de um potinho, era só pegar.
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Creio que também provei as tais rapaduras.
Sei que meu pai não é de comer pouco,
ainda mais quando se trata de rapaduras.
Ele é viciado em rapaduras.

Vi ele enchendo a boca com vários pedaços partidos,

mal conseguia mastigar.
 
Foi nesse exato momento que ouvi minha mãe chamar a todos nós, estava ela junto com a vendedora, finalmente havia escolhido um presente. Todos nos aproximamos, e ela pediu a opinião sincera de meu pai sobre o artefato, pois ele também ia pagar. Assim que meu pai abriu a boca para falar, imediatamente saltou rapadura para todos os lados.
E nessa viagem espetacular, saltou rapadura
exatamente dentro da boca aberta da vendedora!

Ela rapidamente tentou disfarçar o ocorrido, mas a tragédia já estava anunciada.
(Imagina se fosse atualmente com tantos vírus por aí...rsrsrs)
 
           Todos nos olhamos, tentamos conter as risadas.

A vendedora estava completamente sem jeito e meu pai ria disfarçadamente e se babava com as rapaduras. Pediu desculpas e ficou tudo bem, para ele, que continuava comendo o que sobrou em sua boca, nem tão bem para a vendedora, coitada. Uma cena e tanto! Lembro de que ele ainda voltou para pegar mais rapaduras depois disso. No fim, compramos o presente e saímos rapidamente da loja, como se nada tivesse acontecido.
           Nesse dia aprendi que a vergonha é algo passageiro e está na mente das pessoas, pois se a gente faz algo tão honesto, verdadeiro e comum, como comer algo que é oferecido de graça, não há porque ficar sem jeito. Por anos depois, ainda lembramos com muitas risadas desse dia, fazemos sonoplastia da viagem da rapadura de uma boca até a outra, e como aquele dia simplesmente foi o falar de boca cheia que ocasionou o rebuliço.
Coisas de pai que ama rapaduras.

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