Miguel_Beber_Esperança_C - Pausas e vírgulas

Pausas e vírgulas
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21/12/2021
Miguel Angel Pereyra
Um portoalegrense argentino fazendo contos

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Bebendo Esperanças

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Os acontecimentos que vão ser relatados localizam-se na década de 60.
Do século anterior, ou seja, o infame e nobre século XX.
O primeiro dos adjetivos direcionado aos atos produzidos por nossa espécie.
O segundo, aos atos produzidos por muitos dos indivíduos que o compõem.
 E isso é, foi e será normal em todos os momentos que tenhamos que aqui permanecer.

Como espécie ou como individuos.

O tempo medido em horas, anos, séculos e milênios é um “capricho” humano para se organizar.
A Terra, em suas constantes giros e voltas, não presta atenção ao Rolex.

Voltando aos tempos de crianças brincando na rua, descalças na lama e com bolas de trapos, destaca-se a presença de uma garrafa de vinho branco. Marca famosa ... claro ... de elevado valor monetário ... vintage 1942.
Ela foi mantida na cristaleira da casa de uma das crianças da turma daquela época. Todos os seus membros tinham uns oito anos ... alguns um pouco mais e outros um pouco menos.

O pai daquela criança tinha uma doença muito rara para a qual, a medicina desses anos, não tinha cura.
A possibilidade de sarar estava baseada na confiança do avanço da medicina ou ... na esperança que a fé oferecia.
 
Aquele pai havia dito que a garrafa seria aberta e seu conteúdo bebido, quando ele estivesse curado.
 Ou seja, seu conteúdo, aquele néctar que é o vinho dessas características, era o depositário desse binômio confiança-esperança.

Os anos se passaram sem trégua nem bondade. As crianças tornaram-se pessoas adultas e as adultas envelheceram.

O pai no sarou.

O filho já morando em outra cidade, numa de suas ferias visitou a casa paterna.
Na véspera da volta para seu lar, na hora do jantar, o pai colocou, sobre a toalha branca  que cobria a mesa, taças de cristal, antigas, lindas e há muito guardadas.
E ao tirar a garrafa guardada com tanto cuidado por tantos anos, disse com muita calma:

- Hoje vamos festejar e beber o vinho que há tanto tempo nos espera

Seguiu-se um silêncio mortal e nenhum dos membros da família presentes disse nada.
O pai abriu a garrafa e serviu a cada um pouco de seu conteúdo.
 Ele foi o último a se servir e, quando terminou, ergueu a taça e disse:

- Lembrem-se que a esperança e a fé no conteúdo daquela garrafa depositadas, agora estão sendo bebidas para que nos acompanhem para sempre em todas as vicissitudes que a vida nos conceda. Saúde!

A criança-adulta tornou-se um adulto-idoso, e sempre trazendo dentro de si a esperança bebida há tanto tempo.
E é ele quem diz agora:
Saúde !

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Tema Musical
Prélude
Compositor: > Anton Schmoll <
No piano: Miguel Angel Pereyra

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Contato
pausasevirgulas@gmail.com
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