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LITERATURA > Contos > Dalzio
Publicado em 17 de janeiro de 2021
Os Contos de Dalzio
SEM SENTIDO
Final de tarde nos pampas gaúchos. Encontrava-se um simples e modesto homem do interior chimarroneando sob a sombra de frondosa figueira. Cerca de arame farpado o separa da estrada.
Um carro placa da capital se detém. Seus ocupantes descem, o cumprimentam e perguntam-lhe de quem é a propriedade.
- É minha, lhes responde.
- Mas o senhor não a explora?
- Claro que sim ! ! !
Dela é que se tira o sustento da família.
Apresentou-lhes meus Pais, minha Esposa, nosso casal de Filhos e a minha querida Tia.
- Mas pelo tamanho e a qualidade do campo, o senhor poderia tirar muito mais que o sustento.
- Seria inútil, pois mais não se precisa.
- E o futuro dos seus filhos?
- Está sendo construído, senhor. Eles estudam, tem muitos amigos e também ajudam nas lides. Sempre aprendendo, porque não se sabe o que a vida reserva. Como temos fé, vamos à igreja e tentamos ser tais como rezamos. Fé que nos permite agradecer as benesses que recebemos, e suportar as agruras que a vida sempre tem.
- Mas se o futuro é imprevisível, o senhor não deveria ampliar as suas atividades?
- De que maneira?
- Desenvolvendo uma atividade, digamos que mais industrial.
- Para que?
- Para ganhar mais dinheiro, ora.
- E para que?
- Com mais capital o senhor pode se mudar para a cidade, e lá desenvolver atividades de maior retorno financeiro.
- E para que?
- Dessa maneira daqui uns trinta anos, o senhor e sua família, já ricos, podem voltar ao seu campo e tomar um chimarrão sossegado.
- Isso não tem sentido. Seriam trinta anos de nossas vidas desperdiçados, pois é o que estamos fazendo hoje.
Esse homem simples, de fé inabalável e, por essa razão, seguro dos seus passos, resiste sem tentar-se à proposta oferecida.
Singela maneira de indicar um caminho. Funciona da mesma maneira que uma fábula, já que uma conclusão moral é inevitável.