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JUAN VALERA
Publicado em 8 de Março de 2021
Uma série sobre mentirosos, honestos e enganados
A couve e o caldeirão
Um rapaz galego, que se encontrava em Sevilha a servir numa mercearia, era amigo íntimo de um caldeireiro cigano,
a quem, sempre que saía para passear enaltecia a fertilidade da Galicia.
Suas florestas exuberantes;
seus prados verdes,
cobertos com grama abundante, onde belos bezerros são criados e engordados, e belas vacas que dão leite amanteigado; e o rico exemplar de flores, frutos e legumes
que aí estão onde se quer valiam muito mais, segundo o galego, do que as áridas quintas, do que as planícies estéreis
sem árvores que lhes deem sombra
e sem fagulha de relva,
e que os sombrios olivais e vinhas da Andaluzia.
Animado, um dia, o pequeno galego, comparando a indelicadeza e a pequenez das plantas andaluzas com a frescura e o tamanho colossal das da sua terra,
chegou a falar de uma couve que crescera numa pequena
horta cultivada pelo seu pai.
A couve acabou tendo tais dimensões que, no rigor do verão, uma manada de carneiros vinha cochilar à sua sombra e se abrigava dos raios escaldantes do sol.
O cigano celebrou e admirou muito a magnificência da couve galega e não podia deixar de confessar que o solo andaluz era muito menos fértil e generoso no que se refere às couves.
- Por isso, disse o cigano, se os andaluzes seguissem o meu conselho, negligenciariam a agricultura e se dedicariam à indústria, que já começa a crescer muito. Por exemplo, em Málaga, onde há pouco trabalhei para um determinado negócio, vi, na forja do senhor Leria, uma caldeira que eles estavam a fabricar, e isso é realmente um espanto. Jesus! Eu não vi nada maior. Imagine que de um lado da caldeira havia alguns homens martelando e os do outro lado não ouviam nada.
- Mas compadre, disse o galego, para que serviria essa caldeira tão grande?
Para que ia servir ?, respondeu o cigano: para cozinhar a couve que seu pai plantou na horta.